Sonhos de uma noite de ilusão

Tudo está nublado.

A sensação é de tensão.

O local é apertado.

Não sabemos o que poderá acontecer.

Muitas pessoas começam a chegar.

Apesar da fumaça, alguns rostos são conhecidos. Mas são poucos.

Acho que estamos em uma reunião.

Muitos assuntos deverão ser discutidos. O interesse é coletivo.

Derrepente começam a surgir luzes de pequenas câmeras.

A mesa é formada e as cartas são postas.

As pessoas se acalmam.

No palco, os oradores começam a falar.

Mais luzes pipocam aqui e ali.

Um xamã disse que com a união das esquerdas o capitalismo será finalmente vencido.

Gritos entre a turba.

Outro xamã, em discurso inflamado, pede para que se vote uma moção de repúdio a medida arbitrária cometida pelo grade cacique reitor, que distribuiu cacetetes entre seus guerreiros, com a clara finalidade de nos agredir.

Alguns aplaudem. Outros não entendem.

Dúvidas.

Tenho medo. Mas não sei se do cacique ou do xamã.

Estou tonto. Sinto náuseas.

Minha visão é distante. Tudo está nublado.

Da platéia, um se levanta e grita: é greve! É greve! É greve!

É grave. Mas “eles” não querem entender. Aplausos! Tensão!

Desencontros.

Os xamãs afirmam que o grande momento tinha chegado! Unidos poderíamos vencer o inimigo.

Parecem estar em êxtase...

Finalmente conseguiram...

Estão em gozo...

Outro xamã fala: criaremos um fórum permanente de discussões...

Conclamam para a grande caminhada.

Estou zonzo.

Me pergunto, é um sonho ou é real?

Minha cabeça gira.

Começo a ver imagens dos anos 70. Médice, cacetetes, AI5, pau-de arara, passeatas, Araguaia...

Escuto uma guitarra de Hendrix. O som é familiar.

Não é possível! Só posso estar sonhando...

Meus Deus!

Preciso acordar!

Continuo tonto. A náusea volta.

Algo me sufoca. Preciso de ar.

Vejo meus pés presos. Minhas mãos estão amarradas. Não posso fazer nada.

Minha cabeça dói. As preocupações de sempre voltam com força. Meu bolso está vazio.

Ar!

Acordo suado. Trêmulo.

Voltei aliviado. Estou em 2010.

Olho às horas. Estou atrasado! O tempo passou muito rápido...

Corro. Será que ainda dá tempo?

Insisto.

Abro a porta. Ainda não começou.

Agora, estou em uma assembléia de técnicos e professores de universidades públicas...

Sonho psicodélico de Platão, psicografado por Uenfezado!